Entrevistámos o diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Álvaro Garrido. Antes de avançar para as perguntas, pedimos que se apresentasse e falasse um pouco do seu trabalho enquanto diretor da FEUC e da sua trajetória profissional.
« O trabalho de diretor de faculdade é um trabalho gratificante e pesado, muito denso. Tem uma agenda diária, muito, muito preenchida, como imaginam, mas tenho-o feito com muito gosto desde há 2 anos para cá (fevereiro de 2020). Embora tenha tido 2 semanas e meia de normalidade, logo de seguida surgiu a pandemia, de modo que temos tido uma gestão atribulada, com muitas dificuldades para enfrentar o contexto de emergência que está, felizmente, a ser atenuado. Portanto, estamos a entrar para um período de maior normalidade, que não de normalidade absoluta.
Eu sou historiador de formação, portanto, licenciado em História, mestre em História Contemporânea e doutorado em Economia e História Económica. É essa a minha formação académica de investigador. Quando tinha tempo, há 2 anos atrás, fazia muita investigação relacionada com o Estado Novo português, com as instituições económicas do corporativismo salazarista. Também estudei Relações Externas e Diplomacia aplicada aos Assuntos do Mar, às pescas também. Tenho interesse, também, pela História das Relações Internacionais e tenho uma ligação muito forte, em termos de investigação, de escrita académica e também criativa, com os temas da História Marítima Contemporânea, das pescas, mas também do Corporativismo Fascista e da Economia Social. Esta é, digamos, a galáxia de temas que tenho estudado e sobre os quais tenho várias publicações, que são conhecidas. »
O tema desta entrevista é “O Papel da FEUC: uma entrevista sobre o ensino superior”. Assim, como referiu, estudou Economia Social. Na sua opinião, o atual RJIES[i] não estará talvez a retirar o caráter social das instituições de ensino superior?
« Bom, são coisas distintas. Em primeiro lugar, acho que o conceito de economia social não é dos conceitos mais aplicáveis a instituições de ensino superior a não ser na perspetiva de responsabilidade social das instituições de ensino superior e também da sensibilidade e dos deveres que elas devem ter relativamente ao problema das desigualdades, aos estudantes mais carenciados, à questão da inclusão. Há de facto uma abordagem social de sensibilidade social e responsabilidade social, em sentido amplo, que nós devemos atribuir e exigir às instituições de ensino superior. Agora, avaliar o RJIES pela ótica dos princípios de economia social parece-me um pouco forçado, portanto eu vou por outro caminho.
Na verdade, o ordenamento jurídico do sistema de governo das instituições de ensino superior, vulgarmente designado pela sigla RJIES, que se refere ao diploma, está hoje a ser cada vez mais discutido. Nós temos um sistema de governo das universidades, das instituições de ensino superior, que é fortemente centralizado e obriga a uma negociação constante entre os poderes executivos e os poderes eletivos; todos os titulares de responsabilidade pública em instituições de ensino superior são eleitos, mas há de facto uma clivagem entre o governo central das universidades e o governo das escolas. E é verdade que o RJIES significou, a meu ver, um recuo significativo no princípio da cogestão das instituições, nomeadamente nas dinâmicas e práticas colegiais de governo das instituições e nas dinâmicas participativas, particularmente dos estudantes.
É claro que hoje é muito discutível a concentração de poderes que está atribuída aos diretores, desde logo na figura do diretor ou diretora nas escolas, em particular, nas faculdades ou, no caso da Universidade de Coimbra, nas unidades orgânicas. Portanto, julgo que é necessário ter consciência disso: é necessário exercer o poder num balanço constante com as deliberações dos órgãos, o Conselho Científico e o Conselho Pedagógico, que têm um princípio de representação dos corpos académicos e formam as comunidades académicas. Mas, ainda assim, o RJIES não é, de facto, nem de longe, nem de perto, um diploma indiscutível e é necessário que as comunidades académicas tomem consciência das suas limitações e dos princípios que as orientam e ver em que medida é que podemos reequilibrar os sistemas de decisão e participação dentro destas comunidades. »
« ...é verdade que o RJIES significou, a meu ver, um recuo significativo no princípio da cogestão das instituições, nomeadamente nas dinâmicas e práticas colegiais de governo das instituições e nas dinâmicas participativas, particularmente dos estudantes. »
Numa entrevista à RUC, afirmou: “a propina zero não é atendível, nem desejável”[ii]. Porém, a persistência da propina não continua um caminho de mercantilização do Ensino Superior, agravando as desigualdades cada vez mais presentes na nossa sociedade?
« Pois, a questão da propina zero é uma ambição legítima dos estudantes, ou de alguns estudantes, e tem sido insistentemente reivindicada por alguns setores políticos, nomeadamente partidos políticos da democracia portuguesa.
Bom, é muito fácil nós termos uma posição radicalmente favorável à propina zero, ou seja, no plano dos princípios, eu creio que todos gostaríamos que assim fosse, todos estamos de acordo. Em todo o caso, não sei se é possível e talvez não seja desejável, no meu entendimento. Creio que é importante que o valor da propina seja pouco mais do que simbólico, ou seja, tanto quanto possível reduzir a propina mínima como já foi, mas é importante que se tenha consciência, também, de que há uma evidência de agravamento das desigualdades – aliás, a pandemia trouxe um agravamento das desigualdades e aumentou, de forma muito clara, as dificuldades dos estudantes que pertencem a famílias com maiores dificuldades económicas e sociais. Por conseguinte, eu julgo que mais do que a propina ser zero ou próxima de zero, é importante que os sistemas da ação social escolar funcionem, que o sistema de bolsas se amplie, que as residências estudantis e todos os sistemas de apoio aos estudantes sejam melhorados nas várias instituições de ensino superior.
Na Universidade de Coimbra, eu penso que a política social tem sido cuidada, há um dispositivo forte a esse nível; a ação social, em geral, funciona e há um esforço muito meritório nesse sentido. Em todo o caso, é uma questão fraturante, as opiniões dividem-se. A minha opinião é, por assim dizer, moderada, e tende a considerar que a propina enquanto dispositivo de contribuição simbólica para os orçamentos das instituições de ensino superior é necessária, ainda que deva ter um valor muito moderado, para não sobrecarregar as famílias e os estudantes. »
« ... mais do que a propina ser zero ou próxima de zero, é importante que os sistemas da ação social escolar funcionem, que o sistema de bolsas se amplie, que as residências estudantis e todos os sistemas de apoio aos estudantes sejam melhorados nas várias instituições de ensino superior. »
Se observarmos as restantes faculdades de economia encontramos tendências, nomeadamente no domínio da Economia e Gestão, para uma vertente mais virada para o negócio e pouco crítica. Não estaremos perante uma uniformização desta área, nas faculdades de economia?
« Sem dúvida. Hoje, o ensino da Economia e da Gestão, do business, é muito uniforme, eu diria demasiado uniforme na maioria das instituições. Há de facto uma replicação dos currículos, dos planos de estudo, das práticas, até dos objetivos de missão das escolas, o que empobrece as abordagens da economia que são, na verdade, substantivamente mais amplas que a opção da maioria das escolas. Eu penso que é importante que a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, em concreto, seja competitiva juntamente com escolas de Economia e Gestão que são líderes, nomeadamente nos rankings dessas áreas, porque essa competitividade existe e ela tem uma lógica muito mercantil e extremamente competitiva. É seguramente das áreas mais competitivas do ensino académico, mas é muito importante que os cursos se distingam uns dos outros, que as escolas tenham especificidades, saibam afirmar as suas diferenças e saibam praticar a interdisciplinaridade.
Na Faculdade de Economia, na verdade, nós temos uma coabitação multidisciplinar de saberes que favorece a incorporação nos curriculae de Economia e de Gestão de conteúdos, de conhecimento, de competências que vêm nomeadamente das Ciências Sociais. Isso é um ganho, não é uma perda. Eu devo dizer que me parece que hoje há muitos estudantes de Economia e Gestão que reivindicam ou que aspiram a uma pluralização crescente do plano de estudos e ao contacto com outras perspetivas da Economia, mais qualitativas, mais antropológicas, mais históricas, sociológicas, mais articuladas com uma perspectiva crítica da Economia e também com as abordagens da Economia Política, em sentido amplo, que era o nome que tomava a ciência económica antes de ela se designar como tal. »
Realmente a FEUC parece ser singular devido à sua abordagem da Economia e da Gestão. Porque é que a FEUC escolheu albergar Sociologia e Relações Internacionais numa faculdade de economia, divergindo das suas instituições irmãs?
« Isso decorre do processo histórico da FEUC e foi muito bem construído, não foi um erro - antes pelo contrário, é uma virtude, uma qualidade singular da Faculdade de Economia. Quando a faculdade nasceu há 50 anos, o primeiro curso que teve foi a Economia, depois foi a Sociologia, depois a Gestão e por fim as Relações Internacionais, e não é tão inédito assim o caso da FEUC. Se olharmos para instituições até de maior de maior dimensão como o ISCTE, para não irmos mais longe, o figurino de coabitação de saberes é muito semelhante. Por conseguinte, eu julgo que essa questão não se coloca; não vai ser este diretor, seguramente, a colocar essa questão em debate na Faculdade de Economia.
A faculdade tem a designação que tem, tem a identidade que tem e é com essas forças que vai fazer outros 50 anos: melhorando a qualidade do ensino e da investigação nas áreas da Economia e da Gestão, bem como a oferta que tem na área da Sociologia e das Relações Internacionais e promovendo, cada vez mais, sinergias entre essas 4 áreas e também noutras subáreas, nomeadamente a História económica, o Direito, a Matemática, métodos científicos de Gestão, que coabitam na faculdade e que concorrem de forma decisiva para os planos de estudos. Por conseguinte, a multidisciplinaridade que decorre do processo histórico de construção da Faculdade de Economia e que define a sua identidade é uma enorme qualidade que nos distingue e isso deve ser valorizado e potenciado - nós temos um potencial interdisciplinar acima daquilo que efetivamente praticamos. Neste momento, a faculdade está envolvida em vários processos de renovações de cursos e em vários dossiers de reformas, que têm como objetivo, por um lado, aprofundar a internacionalização, e por outro aprofundar a competitividade dos cursos, sobretudo as sinergias entre áreas do conhecimento. »
« ... a multidisciplinaridade que decorre do processo histórico de construção da Faculdade de Economia e que define a sua identidade é uma enorme qualidade que nos distingue e isso deve ser valorizado e potenciado [...] »
Como mencionou há pouco quando falámos da uniformização do ensino da Economia e da Gestão, a FEUC parece diferenciar-se na forma como aborda estas áreas não só na Economia ou Gestão, mas também na Sociologia e Relações Internacionais. A Faculdade de Economia alberga muitos intelectuais críticos que divergem do pensamento mainstream, apontando para outras direções e soluções. Neste sentido, podemos dizer que os pensadores e o conhecimento produzido da FEUC, juntamente com outras instituições como o CES, são contra hegemônicos?
« De certa forma sim, mas não é só isso. A Faculdade de Economia é um espaço plural que não devemos confundir com um determinado posicionamento militante, nem enfeudados juízos pré-determinados. É uma instituição plural, em primeiro lugar. Em segundo lugar, na área das Ciências Sociais, na Sociologia e nas Relações Internacionais, deliberadamente por opção académica, por consenso da maioria dos seus docentes, e também das coordenações dos cursos, dos responsáveis, mas também pela ligação que tem com o Centro de Estudos Sociais - onde esse paradigma é dominante e tem um reconhecimento e um prestígio nacional e internacional inequívoco - a FEUC subscreve ou tende a subscrever o paradigma crítico das ciências sociais, que tem por vezes uma leitura demasiado ideológica e politizada, e não é por aí que devemos ir. A Academia é um espaço de coabitação plural de diversas teorias e correntes. Estamos a falar de teorias apenas. São apenas modos de ver o mundo, modos de interpretar a realidade e produzir conhecimento para intervir na sociedade e, se possível, para a transformar. Bom, a Teoria Crítica das Ciências Sociais é isso mesmo, e ela corresponde ao lastro teórico pelo qual a área das Relações Internacionais, na Faculdade de Economia, optou e bem, em contraponto com a chamada Teoria Realista das Relações Internacionais, que impera classicamente noutras escolas.
Agora, eu não subscrevo a pretensão de que este é o lado certo da lua. Existem visões plurais e devem ser debatidas e confrontadas num espaço plural de cidadania académica. Depois os estudantes fazem a sua opção na sua vida cívica, dentro de um quadro plural de conhecimento e de referências teóricas e não de constrangimentos ou enviesamentos pré-determinados, uma vez que isso também não seria positivo. »
« ...a FEUC subscreve ou tende a subscrever o paradigma crítico das ciências sociais, que tem por vezes uma leitura demasiado ideológica e politizada, e não é por aí que devemos ir. »
Esse espaço plural onde vários tipos e formas de produzir de conhecimento coabitam poderá estar em perigo com o atual RJIES, que tenta dar às instituições de ensino superior uma autonomia financeira, ligando-as muitas vezes aos interesses privados? Será possível isto influenciar a qualidade e o tipo de ensino, levando à uniformização, como discutido há pouco sobre a Economia e Gestão? Neste sentido, poderão o ensino e a qualidade de conhecimento produzido na FEUC estar ameaçados pela diminuição de financiamento central?
« Não me parece. Esse risco já existe e é uma evidência numa ou noutra instituição, mas depende do modo como gerimos as instituições, como nos lembramos ou esquecemos dos princípios éticos de uma educação pública que devemos subscrever. Portanto, a Faculdade de Economia faz parte de uma instituição muito grande, muito prestigiada e centenária chamada Universidade de Coimbra, que tem grandes obrigações e pergaminhos relativamente a princípios de educação pública. É uma Instituição Pública de Ensino, e nesse sentido nós temos a obrigação de, em primeiro lugar, salvaguardar as formas de financiamento público que o Orçamento de Estado e a lei determinam, que decorrem dos próprios princípios constitucionais. Eu não vejo nenhum especial constrangimento para exercemos a nossa missão dentro dos limites que o Orçamento de Estado nos coloca, ou seja, para dar o exemplo da experiência que tenho, a Faculdade de Economia executa a sua missão com recursos escassos, é verdade, mas executa-a sem grandes dificuldades, amarras ou constrangimentos a interesses, nomeadamente privados. Apenas dentro dos princípios de boa gestão de uma instituição pública, que nos cabe executar. Por conseguinte, eu julgo que esse risco existe, mas muitas vezes ele é agitado como um fantasma maior do que se faz crer.
Depende muito como as instituições se colocam na mão de interesses ou resvalam para um princípio de financiamento privado demasiado enfeudado em dinâmicas que estão fora dos princípios da educação pública. Compete aos gestores, neste caso ao diretor e aos órgãos da faculdade, supervisionarem e fazerem a devida gestão para que as escolas sejam geridas dentro de princípios e não se descaracterizem, correndo o risco que, de alguma forma, é potenciado pela lei. Eu julgo que a pergunta talvez exagere um pouco os riscos contidos no RJIES. É verdade que as formas de governo das instituições podem tomar outros caminhos e resvalar eventualmente para fora do perímetro dos princípios da educação pública e daquilo que se espera das instituições públicas. Contudo, não é o nosso caso, manifestamente. »
No seu programa de candidatura à Direção da FEUC, refere que a UC não compreende a FEUC. No que é que se concretiza esse distanciamento entre a Universidade de Coimbra e a Faculdade de Economia?
« Eu não disse exatamente isso. Disse que a Faculdade de Economia precisaria de um processo de afirmação e socialização dos seus pontos fortes na própria Universidade de Coimbra. Isso é uma verdade. Uma verdade e um processo de afirmação que tem acontecido e que vai correndo bem. Posso dizer que a Faculdade de Economia hoje é muito mais e mais bem conhecida na própria Universidade de Coimbra do que era há dois anos atrás. Isso decorre do que temos feito, da minha equipa de direção e da faculdade no seu todo. A Faculdade de Economia é uma excelente faculdade, muito organizada e muito equilibrada, com uma coesão interna e um ambiente interno muito bom, que tem diversas áreas de excelência em termos de investigação científica de âmbito internacional, desde logo nas Relações Internacionais, o curso que atrai o maior número de estudantes internacionais no âmbito de toda a Universidade de Coimbra. No entanto, é necessário socializar esses pontos fortes e mostrar capacidade para executar uma estratégia que vai eliminando os pontos frágeis e que robusteça a faculdade no contexto de uma grande lealdade para com a Universidade de Coimbra. Só temos a ganhar com uma inserção mais efetiva e profunda no âmbito da Universidade de Coimbra, que é uma manta de prestígio global. »
A FEUC tem parcerias únicas, nomeadamente o curso integrado com o Sciences Po (Institut d’Études Politiques de Bordeaux). Seria benéfico expandir este tipo de parceria com outras instituições do Ensino Superior numa perspetiva de internacionalizar mais a faculdade?
« Sim, é uma excelente questão. Nós temos boas dinâmicas de internacionalização quer na mobilidade de estudantes, quer nas redes de investigação internacionais, quer nas parcerias e cursos em associação, mas devemos aprofundá-las. Nomeadamente, na área das Relações Internacionais, estamos neste momento com um projeto em curso no mestrado em RI para uma parceria internacional muito interessante, que em breve será anunciada e que vai significar um salto de internacionalização muito significativo. Estamos também na reforma dos planos de estudo de Economia e Gestão, tanto nos mestrados como nas licenciaturas, a planear uma English-track com um semestre de mobilidade para os estudantes que vai mobilizar parcerias internacionais, numa forma muito mais orgânica do que aquilo que hoje temos. Por conseguinte, é um caminho que estamos a fazer e deve ser aprofundado.
O curso Coimbra-Bordéus tem sido um êxito e é uma construção muito sólida por parte da Faculdade de Economia e também da Sciences Po Bordeaux, uma escola muito prestigiada. É um curso que tem oferecido aos estudantes que o frequentam oportunidades de emprego e um percurso profissional distintos de outros e isso é muitíssimo importante. Devemos também aprofundar aquilo que fazemos em termos de empregabilidade dos nossos estudantes. Nós não podemos, de uma forma mais ou menos aburguesada, pensar que depois os estudantes encontram o seu caminho naturalmente sem que a própria faculdade se empenhe em ajudá-los nesse percurso. Estamos também a fazer isso aumentando a rede de parceiros da faculdade, celebrando protocolos de estágio que conferem oportunidades de contacto com experiências profissionais todos os dias. E esse caminho está a ser feito nomeadamente no plano da internacionalização, como diz. »
« ...não podemos, de uma forma mais ou menos aburguesada, pensar que depois os estudantes encontram o seu caminho naturalmente sem que a própria faculdade se empenhe em ajudá-los nesse percurso. »
Falando de estágios, não terá a FEUC pouca preparação para dar algum currículo profissional e garantir estágios logo a partir da licenciatura, em especial para os seus estudantes de Relações Internacionais ou Sociologia, que têm menos oportunidades para obter o primeiro emprego na área?
« Julgo que devemos fazer mais nessa área. Tem sido prática da faculdade deixar esse esforço espontâneo de procura em boa medida aos estudantes, ajudando-os nesse exercício, embora tenhamos vários protocolos de estágio na área das Relações Internacionais e da Sociologia. Temos imensos na área da gestão e da economia, que conferem aos estudantes oportunidades de uma experiência profissional em várias instituições, empresas ou ONGs. Ainda recentemente, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, assinámos um protocolo para a colocação de seis estudantes de Relações Internacionais em estágios no MNE, dando sequência a uma dinâmica de cooperação anterior que foi agora aprofundada.
De qualquer modo, precisamos fazer mais. Na verdade, na área das Relações Internacionais, no plano potencial, ou seja, teoricamente, os estudantes podem vir a seguir muitos caminhos profissionais, porém posteriormente sabemos que na prática têm um percurso difícil, sendo necessário proporcionar-lhes oportunidades desde logo, tanto quanto possível inseridas no próprio currículo. Portanto, é isso que estamos a procurar fazer. »
Para acabar a entrevista, perguntamos-lhe o que gostaria de mudar na FEUC até ao final do seu mandato como diretor.
« Tenho dois grandes objetivos. Nós quando somos diretores damos apenas um contributo a uma escola que fica sempre muito aquém das ambições e do desejo, dado que, na verdade, mudar as coisas para melhor não é fácil e leva algum tempo. Não obstante, gostaria de concluir todos os processos de reforma de cursos que iniciámos. Também concluir as principais obras de requalificação dos edifícios e instalações da FEUC, que temos acordados com a Universidade de Coimbra e que vamos iniciar em breve. Já será um excelente contributo para melhorar a faculdade. Esse é o saldo inicial que vai certamente ficar do meu trabalho. »
Referências presentes na entrevista:
[i] Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior - https://dre.pt/dre/legislacao-consolidada/lei/2007-107985094 [ii] https://www.ruc.pt/noticia/academia/2021/04/28/alvaro-garrido_propina_zero
Sobre o entrevistado:
Álvaro Garrido é atualmente diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Foi reeleito como diretor a 18 de março, pela Assembleia da Faculdade, para o biénio 2022-2024. O Professor Catedrático assumiu a direção da Faculdade em 2020. Formado em Economia e História, dedicou-se, entre diversos outros tópicos, à investigação da Economia Social.
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